O filme Invictus começa a partir do resquício de uma “tragédia”. A História assombra a película do inicio ao fim. O passado de lutas e sacrifício de um povo e de Nelson Mandela (Morgan Freeman, em atuação notável) aparece mais como um fantasma que deve ser superado, um ponto de partida para a reconstrução de uma nova era. É menos um filme sobre o apartheid e mais um filme a partir dele, que não trata diretamente do assunto, mas que pensa sobre ele, que confronta os sentimentos do público sobre a temática.
Invictus se constitui de uma dialética: de um lado, um documento sobre o visível, sobre a África do Sul reconstruída que o filme capta de forma concreta, do outro o peso do não-vísivel, do preconceito e da intolerância que estão presentes na memória e nos rostos dos personagens marcados por dolorosas lembranças (e que atinge o seu ápice na visita do capitão da equipe de rúgbi François Pienaar (Matt Damon) à antiga prisão em que Mandela esteve encarcerado durante vinte e sete anos). O filme acompanha os meses seguintes à vitória de Mandela à presidência, e toda a sua convicção de que será capaz de unificar a população do país, realçando o seu papel de um grande líder hábil em evitar que se reforce o ciclo de medo que sempre existiu em sua pátria, esforçando-se ao máximo para romper esse circulo vicioso de ódio e rancor.
Invictus é também sobre esporte, mas se diferencia de filmes que retratam apenas a importância dos jogos, não fazendo com que eles se tornem o interesse principal do filme, mas sim um dispositivo elegantemente disfarçado nos detalhes da dramaturgia para alcançar a sua devida conotação política. O presidente Mandela busca utilizar a praticidade dos valores universais e imediatamente reconhecíveis do esporte como recurso para a união entre seu povo, impulsionando a desmotivada seleção de rugby da África para vencer o campeonato mundial prestes a ser sediado pelo próprio país.
Invictus é sobre personagens dispostos a morrer ou se sacrificar por uma causa ou crença inabalável, e essencialmente um filme sobre uma nação e seu novo líder, e que nos mostra a História acontecendo tão perto de nosso tempo”.
Na vida real, esporte e política sempre caminharam lado a lado. É só lembrar, por exemplo, dos esforços de Hitler para tentar provar a tal “supremacia ariana”, durante as Olimpíadas pré-Segunda Guerra. Ou da exploração da imagem da seleção brasileira de futebol durante a ditadura Médici em 1970 (idem Argentina em 78), ou ainda do atentado contra atletas judeus nas Olimpíadas de Munique, em 1972. Isso apenas para citar alguns exemplos. No cinema, porém, talvez nunca o tema tenha sido abordado com tanto talento e emotividade como em Invictus. Não é um filme sobre rúgbi. Não é um filme sobre Nelson Mandela. Invictus é sobre a possibilidade da igualdade entre as raças e as condições sociais. Da união entre diferentes. Da tolerância. Enfim, de todas estas maravilhosas utopias que amamos acreditar. Em meio ao ódio, Mandela cria uma política do perdão. “O perdão remove o medo, por isso é uma arma tão poderosa”, ele prega. Sua proposta é “surpreender o inimigo com tudo o que eles nos negaram”. Mas a maior surpresa dos primeiros dias do novo governo é que, atolado em todos os tipos de problemas, o presidente prefere dar prioridade à seleção sul-africana de rúgbi, prestes a disputar a Copa do Mundo deste esporte tão estranho aos nossos olhos sul-americanos. A decisão parece absurda, mesmo porque ele sequer é fã do esporte. Mas Mandela tem um plano: ele visualiza naquele jogo o fator que pode integrar a nação desfaçelada, o elo que pode unir brancos e negros.
Invictus se constitui de uma dialética: de um lado, um documento sobre o visível, sobre a África do Sul reconstruída que o filme capta de forma concreta, do outro o peso do não-vísivel, do preconceito e da intolerância que estão presentes na memória e nos rostos dos personagens marcados por dolorosas lembranças (e que atinge o seu ápice na visita do capitão da equipe de rúgbi François Pienaar (Matt Damon) à antiga prisão em que Mandela esteve encarcerado durante vinte e sete anos). O filme acompanha os meses seguintes à vitória de Mandela à presidência, e toda a sua convicção de que será capaz de unificar a população do país, realçando o seu papel de um grande líder hábil em evitar que se reforce o ciclo de medo que sempre existiu em sua pátria, esforçando-se ao máximo para romper esse circulo vicioso de ódio e rancor.
Invictus é também sobre esporte, mas se diferencia de filmes que retratam apenas a importância dos jogos, não fazendo com que eles se tornem o interesse principal do filme, mas sim um dispositivo elegantemente disfarçado nos detalhes da dramaturgia para alcançar a sua devida conotação política. O presidente Mandela busca utilizar a praticidade dos valores universais e imediatamente reconhecíveis do esporte como recurso para a união entre seu povo, impulsionando a desmotivada seleção de rugby da África para vencer o campeonato mundial prestes a ser sediado pelo próprio país.
Invictus é sobre personagens dispostos a morrer ou se sacrificar por uma causa ou crença inabalável, e essencialmente um filme sobre uma nação e seu novo líder, e que nos mostra a História acontecendo tão perto de nosso tempo”.
Na vida real, esporte e política sempre caminharam lado a lado. É só lembrar, por exemplo, dos esforços de Hitler para tentar provar a tal “supremacia ariana”, durante as Olimpíadas pré-Segunda Guerra. Ou da exploração da imagem da seleção brasileira de futebol durante a ditadura Médici em 1970 (idem Argentina em 78), ou ainda do atentado contra atletas judeus nas Olimpíadas de Munique, em 1972. Isso apenas para citar alguns exemplos. No cinema, porém, talvez nunca o tema tenha sido abordado com tanto talento e emotividade como em Invictus. Não é um filme sobre rúgbi. Não é um filme sobre Nelson Mandela. Invictus é sobre a possibilidade da igualdade entre as raças e as condições sociais. Da união entre diferentes. Da tolerância. Enfim, de todas estas maravilhosas utopias que amamos acreditar. Em meio ao ódio, Mandela cria uma política do perdão. “O perdão remove o medo, por isso é uma arma tão poderosa”, ele prega. Sua proposta é “surpreender o inimigo com tudo o que eles nos negaram”. Mas a maior surpresa dos primeiros dias do novo governo é que, atolado em todos os tipos de problemas, o presidente prefere dar prioridade à seleção sul-africana de rúgbi, prestes a disputar a Copa do Mundo deste esporte tão estranho aos nossos olhos sul-americanos. A decisão parece absurda, mesmo porque ele sequer é fã do esporte. Mas Mandela tem um plano: ele visualiza naquele jogo o fator que pode integrar a nação desfaçelada, o elo que pode unir brancos e negros.
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