Feita para o filme "Dona Flor e Seus Dois Maridos", a canção "O Que Será" tem três versões, que marcam passagens diferentes da trama: "Abertura", "À Flor da Pele" e "À Flor da Terra". Cantada no filme por Simone, a versão "À Flor da Terra" (três estrofes de doze versos) alcançaria grande sucesso na gravação de Chico Buarque e Milton Nascimento, que abre o elepê Meus caros amigos, um dueto, aliás, que aconteceu por mero acaso. Chico estava na gravadora ensaiando a canção com Francis Hime, quando Milton, de passagem pelo estúdio, ouviu e gostou. Daí surgiu o convite para a gravação, depois retribuído com a participação de Chico num disco de Milton, cantando com ele "À Flor da Pele". Mas "O Que Será", em qualquer das versões, é uma obra-prima, no nível das melhores criações de Chico Buarque, com sua melodia forte e sua letra libertária, um tanto ambígua em certos aspectos: "O que será que será / que todos os avisos não vão evitar / porque todos os risos vão desafiar / porque todos os sinos irão repicar / porque todos os hinos irão consagrar..." Em 15.9.92, ao tomar conhecimento do conteúdo de sua ficha no Dops-DPPS, em que há uma análise de "O Que Será", Chico Buarque declarou ao Jornal do Brasil: "acho que eu mesmo não sei o que existe por trás dessa letra e, se soubesse, não teria cabimento explicar..."
Depois de uma primeira viagem a Cuba, em fevereiro de 1978, como jurado do prêmio da Casa de las Américas (na volta, foi detido no aeroporto do Rio, com Marieta Severo e Antônio Callado), Chico multiplicou viagens a Havana, onde acabou por se tornar uma espécie de embaixador informal do Brasil, que só em 1986 reataria relações com o país de Fidel Castro. De lá trouxe a música até então desconhecida dos compositores da nueva trova cubana, como Pablo Milanés e Sílvio Rodríguez. Inspirado em fotos da ilha que lhe mostrara o escritor e jornalista Fernando Morais, compôs O que será, buscando algo entre o baião e os ritmos do Caribe - "um cubaião", batiza
"O que será - Abertura" é cantada/narrada do ponto de vista da mulher (representa a força do desejo feminino); "O que será - à flor da pele", é cantada/narrada do ponto de vista do homem (idem, sugere a representação da força do desejo masculino); "O que será - À flor da terra", por sua vez, é cantada/narrada do ponto de vista de um corpo coletivo, desejoso de mudanças, de novos rumos para a História (diria, ansioso pela Revolução).
(Escreveu Rinaldo de Fernandes)
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